A decadência de Tomar nos últimos anos é um dos factos mais incontestáveis, mais evidentes da nossa história local: pode até dizer-se que essa decadência, seguindo-se quase sem transição a um período de força e de rica originalidade, é o único grande facto evidente e incontestável que nessa história aparece aos olhos do observador atento. Como tomarense, sinto profundamente ter de afirmar, numa assembleia de tomarenses, esta desalentadora evidência.
Conheço quanto é delicado este assunto, e sei que por isso que dobrados deveres se impõem à minha crítica. Para uma qualquer assembleia não passará esta duma tese histórica, curiosa sim para as inteligências, mas fria e indiferente para os sentimentos pessoais de cada um. Num auditório de tomarenses não é porém assim. A história dos últimos séculos perpetua-se ainda hoje entre nós em opiniões, em crenças, em interesses, em tradições, que a representam na nossa sociedade, e a tornam de algum modo actual. Há em todos nós uma voz íntima que protesta em favor do passado, quando alguém o ataca. E aquilo a que temos assistido nos últimos tempos em Tomar envergonha-nos porque é um desdém ao nosso passado.
Ruínas, demolições, encerramentos, impedimentos, esbanjamentos, imbróglios, impunidades, alheamentos, tudo isto tem infelizmente caracterizado a presente realidade de Tomar.
A situação de descalabro na governação camarária atingiu o seu auge com o processo de destituição de pelouros ao vereador do PS e nem foi preciso o voto de qualidade do Presidente da Assembleia para se perceber o que o PSD pensava da actuação do referido vereador. Estamos perante uma Coligação que não o é. Uma coligação que publicamente não é defendida pelos respectivos presidentes das Concelhias dos partidos que a integram, mas que mesmo assim é mantida por interesses pessoais e sustentada com argumentos banais, para não lhe chamar imorais. E tudo isto após o vexame da destituição.
Termino com as sábias palavras de Marco Túlio Cícero, cônsul de Roma, adaptadas 21 séculos depois à realidade tomarense.
Até quando, ó Coligação, abusarás da nossa paciência? Por quanto tempo ainda há-de zombar de nós essa tua loucura? A que extremos se há-de precipitar a tua audácia sem freio? Nem a guarda do castelo, nem a ronda nocturna da cidade, nem os temores do povo, nem a afluência de todos os homens de bem, nem este local tão bem protegido para a reunião da Assembleia, nem o olhar e o aspecto destes deputados municipais, nada disto conseguiu perturbar-te? Não sentes que os teus planos estão à vista de todos? Não vês que a tua conspiração a têm já dominada todos estes que a conhecem? Quem, de entre nós, pensas tu que ignora o que fizeste na noite passada e na precedente, em que local estiveste, a quem convocaste, que deliberações foram as tuas?
O Deputado Municipal eleito pelo
Bloco de Esquerda
Paulo Mendes
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