terça-feira, 28 de abril de 2015

Intervenção 25 de abril de 2015

Vamos cumprir ABRIL!
Num poema, Ary dos Santos escreveu: “De tudo o que Abril abriu, ainda pouco se disse e só faltava agora que este Abril não se cumprisse”.
Muitos dos ideais do 25 de Abril cumpriram-se de facto. O movimento popular que irrompeu após o golpe dos capitães destruiu o regime fascista, a muitos níveis
Surgiram novas formas de organização e a expressão da vontade popular nos locais de trabalho, nos bairros, nas escolas, nos órgãos locais do Estado e até nas Forças Armadas. Construíram-se serviços públicos, na saúde e na educação. Nacionalizaram-se empresas estratégicas, como na banca. Acabou a guerra colonial e a censura. Formaram-se partidos políticos e as pessoas puderam votar livremente.
As pessoas provaram o gosto da Liberdade. Participaram ativamente na construção de um Portugal mais livre, mais democrático. Fruto da Revolução, o país saiu de uma letargia que mantinha o seu povo acorrentado. Vivemos dias que marcaram as nossas vidas para sempre.
Já muito foi dito sobre o 25 de Abril mas volvidos tantos anos, ainda há muito por cumprir.
Pior: hoje, muitas conquistas alcançadas estão a ser aniquiladas pelo poder vigente que está a reduzir o povo português à miséria.
É sobejamente conhecido o facto de Portugal ter os salários mais baixos da Europa. No entanto, o Primeiro-Ministro afirma que ainda falta fazer uma reforma: reduzir o custo do trabalho, ou seja, tornar ainda mais pobres os que já sofrem na pele os efeitos de uma política que quer transformar os trabalhadores em escravos. Sim! Escravos! Porque é de facto escravatura aumentar as horas de trabalho, acabar com feriados e reduzir cada vez mais salários e subsídios.
A precariedade, a contínua regressão salarial e o desemprego empurram milhares de portugueses para a emigração, muitos deles jovens qualificados. É uma geração que está a perder-se, ao ritmo de dois em cada hora --- como antes de 25 de Abril!
A subserviência à finança internacional está a lançar para o desemprego milhares de homens e mulheres com longa experiência profissional. Hoje, pela chamada extinção dos seus postos de trabalho, não vislumbram sequer a possibilidade de poderem, um dia, regressar ao mundo do trabalho.
Veja-se o que estão a fazer a muitos trabalhadores da função, com vidas dedicadas ao trabalho e ao serviço público, agora lançados fora, para a chamada “mobilidade”, com pesados cortes nos vencimentos e na antecâmara do desemprego.
Ao mesmo tempo, o governo entrega ou quer entregar aos privados sectores vitais para o país, como a distribuição de água e da eletricidade, os correios e, agora a própria TAP, empresa bandeira. O governo é um comité de negócios para garantir rendas e lucros aos grandes grupos.
O que o governo tem feito é desinvestir na economia, na saúde, na educação. Nos serviços públicos, em geral.
Está a por o país em saldo e a dizer aos privados: venham e comprem. É o mesmo que dizer aos Portugueses: para pagar uma dívida externa impagável, não há futuro para o nosso país --- a não ser vendê-lo.
E, em vez de defenderem a reestruturação da dívida externa, os nossos governantes ainda se gabam de antecipar de um ano o exigido no Tratado Orçamental, um Tratado que impõe a continuidade da austeridade --- agora sem troika. O Tratado orçamental vai empobrecer ainda mais o país e tem de ser denunciado sem hesitações.
Surpreendentemente, assistimos também ao regresso do conservadorismo mais bafiento. Depois da despenalização da interrupção voluntária de gravidez, fruto de uma luta de décadas, regressam agora vozes a querer condenar as mulheres a abortos ilegais, feitos em vão de escada e em deploráveis condições sanitárias. Ainda por cima, hipocritamente, fazem-no em nome do “direito à vida”. Se for preciso voltaremos a esta luta que é de todos e todas.
Não podemos assistir de braços cruzados ao desmantelar das conquistas de Abril. Não esquecemos todos os que antes e depois do 25 de Abril lutaram por um país onde todos tivessem “liberdade a sério: paz, pão, habitação, saúde, educação!”
A hora é de resistir, em defesa da dignidade de um povo e de um país.
É tempo de garantir que “ Agora ninguém mais cerra as portas que Abril abriu!”
Viva o 25 de Abril!
Viva Tomar!

Viva Portugal!

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