Vamos cumprir ABRIL!
Num poema, Ary dos Santos escreveu: “De
tudo o que Abril abriu, ainda pouco se disse e só faltava agora que este Abril
não se cumprisse”.
Muitos dos ideais do 25 de Abril
cumpriram-se de facto. O movimento popular que irrompeu após o golpe dos
capitães destruiu o regime fascista, a muitos níveis
Surgiram novas formas de organização e a
expressão da vontade popular nos locais de trabalho, nos bairros, nas escolas,
nos órgãos locais do Estado e até nas Forças Armadas. Construíram-se serviços
públicos, na saúde e na educação. Nacionalizaram-se empresas estratégicas, como
na banca. Acabou a guerra colonial e a censura. Formaram-se partidos políticos
e as pessoas puderam votar livremente.
As pessoas provaram o gosto da Liberdade.
Participaram ativamente na construção de um Portugal mais livre, mais
democrático. Fruto da Revolução, o país saiu de uma letargia que mantinha o seu
povo acorrentado. Vivemos dias que marcaram as nossas vidas para sempre.
Já muito foi dito sobre o 25 de Abril mas
volvidos tantos anos, ainda há muito por cumprir.
Pior: hoje, muitas conquistas alcançadas
estão a ser aniquiladas pelo poder vigente que está a reduzir o povo português
à miséria.
É sobejamente conhecido o facto de
Portugal ter os salários mais baixos da Europa. No entanto, o Primeiro-Ministro
afirma que ainda falta fazer uma reforma: reduzir o custo do trabalho, ou seja,
tornar ainda mais pobres os que já sofrem na pele os efeitos de uma política
que quer transformar os trabalhadores em escravos. Sim! Escravos! Porque é de
facto escravatura aumentar as horas de trabalho, acabar com feriados e reduzir
cada vez mais salários e subsídios.
A precariedade, a contínua regressão
salarial e o desemprego empurram milhares de portugueses para a emigração,
muitos deles jovens qualificados. É uma geração que está a perder-se, ao ritmo
de dois em cada hora --- como antes de 25 de Abril!
A subserviência à finança internacional
está a lançar para o desemprego milhares de homens e mulheres com longa
experiência profissional. Hoje, pela chamada extinção dos seus postos de
trabalho, não vislumbram sequer a possibilidade de poderem, um dia, regressar
ao mundo do trabalho.
Veja-se o que estão a fazer a muitos
trabalhadores da função, com vidas dedicadas ao trabalho e ao serviço público, agora
lançados fora, para a chamada “mobilidade”, com pesados cortes nos vencimentos
e na antecâmara do desemprego.
Ao mesmo tempo, o governo entrega ou quer
entregar aos privados sectores vitais para o país, como a distribuição de água
e da eletricidade, os correios e, agora a própria TAP, empresa bandeira. O
governo é um comité de negócios para garantir rendas e lucros aos grandes
grupos.
O que o governo tem feito é desinvestir na
economia, na saúde, na educação. Nos serviços públicos, em geral.
Está a por o país em saldo e a dizer aos
privados: venham e comprem. É o mesmo que dizer aos Portugueses: para pagar uma
dívida externa impagável, não há futuro para o nosso país --- a não ser vendê-lo.
E, em vez de defenderem a reestruturação
da dívida externa, os nossos governantes ainda se gabam de antecipar de um ano
o exigido no Tratado Orçamental, um Tratado que impõe a continuidade da austeridade
--- agora sem troika. O Tratado orçamental vai empobrecer ainda mais o país e
tem de ser denunciado sem hesitações.
Surpreendentemente, assistimos também ao
regresso do conservadorismo mais bafiento. Depois da despenalização da
interrupção voluntária de gravidez, fruto de uma luta de décadas, regressam agora
vozes a querer condenar as mulheres a abortos ilegais, feitos em vão de escada
e em deploráveis condições sanitárias. Ainda por cima, hipocritamente, fazem-no
em nome do “direito à vida”. Se for preciso voltaremos a esta luta que é de
todos e todas.
Não podemos assistir de braços cruzados
ao desmantelar das conquistas de Abril. Não esquecemos todos os que antes e
depois do 25 de Abril lutaram por um país onde todos tivessem “liberdade a
sério: paz, pão, habitação, saúde, educação!”
A hora é de resistir, em defesa da
dignidade de um povo e de um país.
É tempo de garantir que “ Agora ninguém
mais cerra as portas que Abril abriu!”
Viva o 25 de Abril!
Viva Tomar!
Viva Portugal!